Por Pe. Edward McNamara, L.C.
ROMA, 10 de Maio de 2013 (Zenit.org) - Um leitor brasileiro enviou ao pe. McNamara a seguinte pergunta. “É correto as pessoas cantarem o amém final da oração eucarística? Alguns sacerdotes dizem que ele não deve ser cantado, porque é um momento íntimo, ligado à paixão, morte e ressurreição de Cristo” – R.N., Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul.
Outro leitor, este dos EUA, também envia uma pergunta sobre a doxologia: “Em nossa paróquia, o padre convidou os fiéis a rezar com ele a doxologia: ‘Por Cristo, com Cristo e em Cristo...’. Eu pensava que ela fosse reservada ao sacerdote. Estou errado?” - K.S., Utica, Nova Iorque.
Publicamos abaixo a resposta do pe. McNamara.
O Ordenamento Geral do Missal Romano (OGRM) é muito claro. Em seu nº 151, ele afirma: "No fim da oração eucarística, elevando a patena com a hóstia juntamente com o cálice, o sacerdote pronuncia, sozinho, a doxologia: Por Cristo... As pessoas, no final, aclamam: Amém. Em seguida, o sacerdote coloca sobre o corporal a patena e o cálice".
O sacerdote pronuncia ou canta esta oração sozinho (ou em conjunto com outros sacerdotes concelebrantes), porque ela faz parte da oração eucarística, que sempre foi reservada exclusivamente ao sacerdote.
A assembleia dá o seu assentimento às palavras do sacerdote dizendo ou cantando o amém, que também é conhecido como “o grande amém", por ser o mais importante da missa. Este amém é considerado a conclusão definitiva da oração eucarística, e a sua doxologia (do grego δόξα, louvor, ou seja, hino ou oração de louvor) é simbolizada pelo fato de o sacerdote abaixar o cálice e a patena apenas quando as pessoas concluíram o amém. Em muitas celebrações papais, a importância deste amém é destacada pelas três vezes em que ele é cantado de forma solene.
Não é, portanto, um momento de intimidade, mas, ao contrário, um momento público de louvor realizado por toda a assembleia.
É verdade que o atual rito da missa inclui a proclamação do mistério da fé por parte da assembleia depois da consagração, mas, estritamente falando, ela não faz parte da oração eucarística. Ela é omitida quando o sacerdote celebra sozinho ou concelebra em ausência de ministros ou de assembleia. Portanto, não equivale ao amém final.
A prática da assembleia que se une à doxologia é encontrada em vários lugares, às vezes porque um sacerdote pode ter erroneamente convidado a assembleia a fazê-lo. Mais frequentemente, porém, é um provável resultado da introdução da língua vernácula, que levou as pessoas a repetirem espontaneamente esse texto rítmico. Como não foi corrigido na época, tornou-se um hábito já difícil de eliminar.
Como dizer isto ao seu pároco? Eu proponho que você lhe recorde, muito gentilmente, as normas a respeito, sugerindo, ao mesmo tempo, uma alternativa para destacar a importância desses momentos litúrgicos. Uma possibilidade é lhe pedir que cante a doxologia, para que a resposta do povo também seja cantada. Outra possibilidade para tornar este amém mais solene é repeti-lo três vezes em crescendo, como nas celebrações pontifícias. Desta forma, ele também serve como “gancho” musical para o pai-nosso.
Esta solução, junto com uma catequese adequada, pode ajudar a mudar o costume enraizado em muitos lugares onde o povo se une à doxologia. É necessário retornar à fidelidade às normas litúrgicas, evitando dar a impressão, porém, de que se queira reduzir a ação dos fiéis.
Aqui, como na ética, a maneira mais eficaz de combater um hábito errôneo não é tanto a repressão do vício, mas a formação da virtude oposta.
* Os leitores podem enviar perguntas para liturgia.zenit@zenit.org. Pede-se a gentileza de mencionar a palavra "Liturgia" no campo assunto. O texto deve incluir as iniciais da pessoa e o nome da cidade, do estado e do país. O pe. McNamara poderá responder apenas a uma pequena parcela das muitas perguntas que recebemos
Por Pe. Edward McNamara, L.C.
ROMA, 03 de Maio de 2013 (Zenit.org) - “Surgiu uma dúvida em nossa comunidade: quando o leitor se dirige ao ambão para proclamar a Palavra, deve fazer uma inclinação diante do ambão, do altar ou do tabernáculo?” – M.V.L., Itália
O pe. McNamara formulou a seguinte resposta:
Reina em torno desta pergunta recorrente uma certa confusão.
O nº 59 do Ordenamento Geral do Missal Romano afirma: “A proclamação das leituras, segundo a tradição, não é competência específica daquele que preside, mas de outros ministros. As leituras, portanto, devem ser proclamadas por um leitor; o Evangelho pelo diácono ou, em sua ausência, por outro sacerdote. Se não estiver presente nem diácono nem outro sacerdote, o mesmo sacerdote celebrante deve ler o Evangelho; e se faltar um leitor idôneo, o sacerdote celebrante deve proclamar também as outras leituras”.
Nem todos os gestos litúrgicos pedem um fundamento teológico. Em alguns casos, trata-se de gestos consuetudinários de cortesia e de respeito, que dão mais decoro à celebração.
O atual bispo auxiliar de Melbourne, na Austrália, dom Peter Elliott, descreve a inclinação do leitor em seu manual Ceremonies of the Modern Roman Rite do seguinte modo: “O leitor, ao chegar ao presbitério, faz as costumeiras reverências; primeiro, inclinando-se profundamente ao altar (...) e depois ao celebrante, antes de se dirigir ao ambão”.
Dois gestos de inclinação são descritos. O primeiro, voltado ao altar, se baseia no Cerimonial dos Bispos, cujo nº 72 diz: “Todos aqueles que sobem ao presbitério ou dele se afastam, ou passam em frente ao altar, saúdam o altar com uma inclinação profunda”.
O segundo gesto, voltado ao celebrante, não é prescrito explicitamente nos livros litúrgicos, mas pode ser considerado um gesto consuetudinário que tem origem nos sinais de reverência e de respeito para com o bispo mencionado no Cerimonial em seus números 76 e 77:
“76. Saúdam o bispo com uma inclinação profunda os ministros, aqueles que se aproximam para realizar um serviço ou se afastam ao seu término, e aqueles que passam em frente a ele”.
“77. Quando a cátedra do bispo se encontra atrás do altar, os ministros devem saudar o altar ou o bispo, conforme se aproximarem do altar ou do bispo; evitem, porém, na medida do possível, passar entre o bispo e o altar, por causa da reverência que se deve a ambos”.
É interessante observar que nenhum desses textos menciona explicitamente os leitores, e que o gesto é relevante somente quando se entra ou se sai do presbitério, ou, em sentido muito amplo, quando se auxilia o celebrante. Não parece que essas inclinações façam parte de modo permanente e obrigatório das usanças de quem exercita o ministério de leitor.
Ao descrever a Liturgia da Palavra, em seu nº 137, o Cerimonial dos Bispos não menciona eventuais inclinações: “Ao terminar a oração coleta, o leitor se dirige ao ambão e, quando todos estão sentados, proclama a primeira leitura”.
Portanto, se os assentos estiverem ordenados de tal modo que os leitores estejam no presbitério desde o início da missa, sem precisarem passar em frente ao altar, eles podem exercer o seu ministério sem fazer qualquer inclinação.
Por fim, os livros não fazem menção a inclinações diante do ambão, e, durante a missa, via de regra, não se fazem inclinações ao tabernáculo.
O rito da paz na santa missa
Por Pe. Edward McNamara, L.C.
ROMA, 12 de Abril de 2013 (Zenit.org) - “Quando o sacerdote ou o diácono convida a assembleia a intercambiar o sinal da paz, pretende-se que a saudação seja feita entre as próprias pessoas, mais do que entre o padre e o povo? Eu ouvi dizer que o povo pode sempre se dar a saudação da paz, mesmo sem o convite do sacerdote ou do diácono” (GD, Thornley, Inglaterra).
Oferecemos a seguinte resposta do pe. McNamara:
O Ordenamento Geral do Missal Romano trata em diversas passagens do rito da paz. Descrevendo a estrutura geral da missa, ele diz no número 82:
"82. Segue-se o rito da paz, com que a Igreja implora a paz e a unidade para si mesma e para toda a família humana, e os fieis expressam a comunhão eclesial e o amor mútuo antes de comungar sacramentalmente. Cabe às conferências episcopais estabelecer a maneira de realizar este gesto de paz, de acordo com a índole e os costumes dos povos. Convém, no entanto, que cada um dê o sinal da paz apenas àqueles que lhe estão mais próximos, de forma sóbria".
Mais adiante, quando descreve as várias formas de celebração da missa, o texto acrescenta detalhes. Na descrição da missa sem diácono, o número 154 afirma:
"154. O sacerdote, de mãos estendidas, diz em voz alta a oração ‘Senhor Jesus Cristo’; terminada a oração, estendendo e depois juntando as mãos, anuncia a paz dizendo ao povo: ‘A paz do Senhor esteja sempre convosco’. Após o povo responder devidamente, o sacerdote pode acrescentar conforme o caso: ‘Saudai-vos em Cristo Jesus’.
O sacerdote pode dar a paz aos ministros, permanecendo sempre dentro do presbitério de modo a não perturbar a celebração. Deve fazer o mesmo se, por algum motivo, desejar dar a paz a alguns fiéis. Todos, no entanto, de acordo com o estabelecido pela conferência episcopal, expressam mutuamente paz, comunhão e caridade. Quando se dá a paz, pode-se dizer: ‘A paz de Cristo’ ou ‘A paz do Senhor esteja sempre contigo’, e se responde: ‘Amém’".
Depois, na descrição da missa com diácono, o número 181 explica:
"181. Depois que o sacerdote fez a oração pela paz e a saudação ‘A paz do Senhor esteja sempre convosco’, com a correspondente resposta do povo, o diácono pode, conforme o caso, convidar a todos a intercambiar a paz. Ele recebe a paz do sacerdote e pode oferecê-la aos outros ministros mais próximos".
Finalmente, o número 239, que trata da missa concelebrada, diz:
"239. Após o convite do diácono ou, na ausência deste, de um dos concelebrantes para o intercâmbio da paz, todos o fazem. Os mais próximos do celebrante principal recebem dele a paz antes do diácono".
A instrução Redemptionis Sacramentum também aborda o tema. No número 71, lemos:
"Conforme uso do Rito Romano, mantenha-se a saudação da paz antes da comunhão, como indicado no Rito da Missa. Segundo a tradição do Rito Romano, esta prática não tem conotação nem de reconciliação nem de remissão dos pecados, mas sim a função de manifestar a paz, a comunhão e a caridade antes do recebimento da Sagrada Eucaristia. O ato penitencial, a executar-se no início da missa, especialmente na sua forma primeira, é que tem o caráter de reconciliação entre os irmãos".
Na exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, o papa emérito Bento XVI dedicou uma reflexão ao sinal da paz. No número 49, ele explica:
"49. A Eucaristia é o sacramento da paz por natureza. Esta dimensão do mistério eucarístico encontra expressão específica no intercâmbio da paz. É, sem dúvida, um sinal de grande valor (cf. Jo 14,27). Em nosso tempo, cheio de medos e conflitos, este gesto ganha particular importância por mostrar que a Igreja sente mais e mais a responsabilidade de implorar de Deus o dom da paz e da unidade para si e para toda a família humana. A paz é, certamente, um anseio irreprimível presente no coração de cada um. A Igreja dá voz à demanda de paz e de reconciliação que brota de cada pessoa de boa vontade, dirigindo-a para aquele que ‘é a nossa paz’ (Ef 2,14) e que pode trazer a paz para os indivíduos e os povos, mesmo quando todos os esforços humanos fracassam".
Depois do sínodo houve um debate e uma ampla consulta sobre a possibilidade de mudar o intercâmbio da paz para outro momento. O resultado não foi conclusivo, mas a tendência geral é de mantê-lo antes da comunhão.
Se, por algum motivo, o celebrante decide omitir o convite, os fiéis não são obrigados a trocar o sinal de paz entre si.
A Redemptionis Sacramentum destaca outro motivo. A paz desejada é a paz do Senhor que vem do sacrifício do altar. O desejo de paz sem um convite vindo do altar altera o valor simbólico do rito e poderia reduzi-lo a mera benevolência humana.
Pastoralmente falando, é preferível manter uma certa estabilidade no fazer ou omitir o convite ao intercâmbio da paz. Se um padre omite irregularmente o rito, descobrirá que os fiéis começam a dar as mãos mesmo assim, por simples força do hábito. Isso pode ser confuso.
Alguns sacerdotes saltam o rito nas missas feriais, os outros o fazem sempre. Não há um critério absoluto para todos os casos.